O "uso" da Luz Natural na Arquitetura
"O USO DA LUZ NATURAL EM PROJETOS E OBRAS DE ARQUITETURA"
Primeiro, quero agradecer ao IDEA pelo convite de falar sobre um tema tão importante. Falar em arquitetura é, na realidade, falar na vida - e a luz, o calor, na medida em que a luz é energia, a cor, a sombra, faz parte da vida. Luz é vida. Le Corbusier, o mestre da arquitetura de nosso século, já disse: "Arquitetura é o sábio caminho da luz". Eu uso a luz abundantemente em meus projetos, pois a considero um dos fundamentos básicos da arquitetura. A luz costura os espaços, e cria encantamentos, como na formosa capela de Ronchamps, do próprio Le Corbusier. Mies Van der Rohe, criador dos modernos arranha-céus, dizia: "A história da arquitetura é a luta pela luz, pela janela".
O grande potencial da luz exprime-se pelo encantamento que esta provoca. O encantamento está num estágio mais avançado da arquitetura, após os estágios da racionalidade, da espiritualidade, da sensibilidade. É o momento que mais se aproxima daquilo que o homem sente ao apaixonar-se por uma mulher: o máximo! O grande sonho que tenho perseguido em meu trabalho é alcançar este encantamento. Algo que une o arquiteto ao músico, já que o que se busca é a qualidade, não a quantidade.
O tema da luz é o "algo mais" - ás vezes se consegue, outras vezes não. Hoje é possível discutirmos o parâmetro da qualidade, isto é, o do homem que procura algo além do mero abrigo. Em São Paulo, há toda essa angústia permanente de se resolver o cotidiano - mas a sociedade quer algo mais, algo além da solução dos problemas - um outro patamar de qualidade de vida.
Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre os trabalhos que venho desenvolvendo no escritório nos últimos tempos. Entendo que a arquitetura é o campo disciplinar que abrange desde a escala urbana até o objeto. O que vou mostrar é o que temos projetado nos últimos dois ou três anos, sempre à procura da magia da luz. Em muitos dos nossos trabalhos temos utilizado estruturas metálicas - entendo que o aço exibe toda uma densidade de projeto a ser explorada.
É o material das transparências. Quando se trabalha com aço, deve-se entender que o aço representa a linguagem do vazio, da ausência, do espaço, da luz. O aço é o material do nosso século, entrando na mudança de milênio. A solução metálica é acompanhada por uma profusão do uso do vidro, do plástico, do policarbonato. Foi uma luta de vários arquitetos pioneiros que hoje ganha seu esplendor.
Nesta obra para a Escola Panamericana de Artes (que todos conhecem, já que se tornou um ponto de visitação pública, um marco da arquitetura contemporânea em São Paulo), a idéia foi de explorar a transparência do aço para que os espaços ganhassem a cidade - a paisagem dos jardins até a encosta do espigão, o Parque do Ibirapuera (slides). O visitante entra na escola por meio de um túnel - você passa nos espaços de transição até chegar no interior do prédio - o túnel é uma espécie de esqueleto de navio (slides). Esta é uma vista geral do conjunto: duas partes bem distintas do terreno fizeram com que colocássemos o edifício com sua pirâmide na parte desprovida de árvores: na outra, preservamos integralmente as árvores existentes (slides).
A pirâmide é o referencial principal do prédio, já que corresponde aos pontos de encontro do conjunto - foi construída com vidro duplo com vácuo intermediário - assim é possível manter o isolamento acústico em local de uso ruidoso (slides). No centro da pirâmide há um centro de energia - o auditório, na sua base abre-se e fecha-se através do controle eletrônico de painéis móveis que são recolhidos (slides).
O resto do edifício é composto por massas de vidro e aço que se relacionam com a arborização ao redor. Aliás, o aço é um material que se relaciona bem com a natureza: a estrutura de aço é uma grande escultura, como a de uma árvore (slides). Um aspecto importante desta obra é que a escola não parou no ano em que a construção ocorreu, já que os vãos adotados permitiram construir o edifício por cima das casas pré-existentes (slides). Assim, diria que, a ambientação deste edifício é composta pela luz e pelas vistas da paisagem urbana - o resultado é agradável (slides).
Vou mostrar agora alguns projetos que estão sendo desenvolvidos pelo escritório baseados pelo conceito de prumadas verticais em formas deslizantes, com bandejas de diferentes projeções - toda uma riqueza de soluções, criando uma nova dinâmica entre o dentro e o fora (slides).
Este é um edifício - marco em Londrina, no Paraná. É composto por duas massas de concreto contraventadas, compondo com um grande átrio central com pele de vidro. De dia a luz entra; de noite ela se projeta para fora , iluminando a cidade como um farol (slides).
Este edifício foi objeto de um concurso para sede da CICONTEL em Londrina - a torre de comunicações é a própria estrutura do edifício; este desenvolve-se como um "miolo" ao entorno da torre. De dia funciona como um marco na paisagem urbana (slides). Esta é uma vista aérea do edifício com um miolo metálico - enfatiza-se assim a transparência deste último (slides).
Já esta é uma escola para Fundação de Ensino (FNDE) - aqui utilizamos cores primárias em alguns elementos; no resto o material utilizado é o concreto (slides). A escola situa-se em Ribeirão Preto, com seu clima muito quente. Como aqui a luz solar pode até incomodar, desenvolvemos uma arquitetura caracterizada por pátios e jardins, permeando os diversos pavilhões. Na cobertura, telhas de barro. O sistema viário entra dentro da escola concebida como um equipamento urbano completo (slides).
Já na escola da Santa Úrsula utilizamos um sistema construtivo baseado em peças pré-moldadas - baseadas em parabolóides hiperbólidos executados pela HOCHTIEF. A luz aqui entra por aberturas zenitais nos corredores (slides). Os corredores acabam nas capelas - a luz passa por blocos de vidros no piso - o que exigiu uma execução primorosa (slides).
A arquitetura é luz e luz é cor. Tirar partido da luminosidade é o objetivo; As capelas não tem dimensão fixa: às vezes ficam até sem bancos, dando vontade de se sentar no chão. Os vitrais utilizados, como nas catedrais góticas, visam "coar" a luz, criando um efeito luminoso absolutamente mágico. Um ar angelical, criando clima para se elevar espiritualmente. Entendo assim a forma de se trabalhar com o fenômeno luz (slides).
Há outros projetos recentes que gostaria de apresentar: Neste projeto para o Hospital das Nações a proposta foi a de unir a parte de hotelaria com a parte médica através de uma "Ponte dos Suspiros" às avessas - saindo da operação para voltar ao aconchego do quarto, ou da casa (slides).
Um projeto em que a luz tem fator importante é o das estações do mono-rail para o Barra Shopping, no Rio de Janeiro (slide). Aqui o policarbonato da DAY BRASIL foi utilizado de forma integrada à solução estrutural em aço, com outra estrutura em alumínio com policarbonato alveolar para criar o sombreamento necessário. Foi realizado um detalhe primoroso do conjunto, com desenhos que, modéstia à parte, podem ser considerados de primeiro mundo. O sistema utilizado é sutil e limpo - composto por um conjunto de elementos que trabalham em harmonia, com excelente nível de acabamento (slide).
Utilizamos a cor vermelha nas estações, com muita liberdade de composição. À noite, a obra iluminada e luminosa valoriza o Shopping (slide). Esta obra foi muito elogiada, passando a ser lugar de divertimento, muito atraente para um grande shopping center. Tivemos inclusive que fazer todo um detalhamento de elementos que garantissem a segurança dos usuários contra quedas em geral, já que o mono-rail transporta 20 a 30.000 pessoas por fim de semana (slides).
Um outro projeto em que utilizamos aço e grandes superfícies de vidro é este Centro Médico Integrado, em Jurubatuba - aqui as fachadas de vidro foram voltadas para a face sul por causa da insolação.
Outro projeto em início de construção é uma nova unidade da Escola Panamericana na Avenida Angélica (slide). Composto por quatro torres de aço, apresenta uma proposta interessante: os espaços de exposição foram localizados na rua. As suas aberturas foram projetadas com tubos de aço, e os espaços permitem a realização de exposições de rua (slides).
Enfim, tentei comunicar o quanto a luz natural participa da arquitetura, criando grandes desafios para o arquiteto e para a indústria da construção.
Existem vidros hoje que escurecem em função da quantidade de luz, através de processos químicos próprios do material - são tecnologias fantásticas e podemos dizer que os recursos avançados do fim do século só poderão enriquecer o nosso trabalho. Obrigado.
Siegbert Zanettini é arquiteto formado pela FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, da qual recebeu o título de doutor e é professor nos cursos de Graduação e Pós-Graduação. É titular do escritório "Siegbert Zanettini Arquitetura e Planejamento", tendo sido o autor de inúmeras obras de destaque no panorama de arquitetura brasileira contemporânea.
Primeiro, quero agradecer ao IDEA pelo convite de falar sobre um tema tão importante. Falar em arquitetura é, na realidade, falar na vida - e a luz, o calor, na medida em que a luz é energia, a cor, a sombra, faz parte da vida. Luz é vida. Le Corbusier, o mestre da arquitetura de nosso século, já disse: "Arquitetura é o sábio caminho da luz". Eu uso a luz abundantemente em meus projetos, pois a considero um dos fundamentos básicos da arquitetura. A luz costura os espaços, e cria encantamentos, como na formosa capela de Ronchamps, do próprio Le Corbusier. Mies Van der Rohe, criador dos modernos arranha-céus, dizia: "A história da arquitetura é a luta pela luz, pela janela".
O grande potencial da luz exprime-se pelo encantamento que esta provoca. O encantamento está num estágio mais avançado da arquitetura, após os estágios da racionalidade, da espiritualidade, da sensibilidade. É o momento que mais se aproxima daquilo que o homem sente ao apaixonar-se por uma mulher: o máximo! O grande sonho que tenho perseguido em meu trabalho é alcançar este encantamento. Algo que une o arquiteto ao músico, já que o que se busca é a qualidade, não a quantidade.
O tema da luz é o "algo mais" - ás vezes se consegue, outras vezes não. Hoje é possível discutirmos o parâmetro da qualidade, isto é, o do homem que procura algo além do mero abrigo. Em São Paulo, há toda essa angústia permanente de se resolver o cotidiano - mas a sociedade quer algo mais, algo além da solução dos problemas - um outro patamar de qualidade de vida.
Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre os trabalhos que venho desenvolvendo no escritório nos últimos tempos. Entendo que a arquitetura é o campo disciplinar que abrange desde a escala urbana até o objeto. O que vou mostrar é o que temos projetado nos últimos dois ou três anos, sempre à procura da magia da luz. Em muitos dos nossos trabalhos temos utilizado estruturas metálicas - entendo que o aço exibe toda uma densidade de projeto a ser explorada.
É o material das transparências. Quando se trabalha com aço, deve-se entender que o aço representa a linguagem do vazio, da ausência, do espaço, da luz. O aço é o material do nosso século, entrando na mudança de milênio. A solução metálica é acompanhada por uma profusão do uso do vidro, do plástico, do policarbonato. Foi uma luta de vários arquitetos pioneiros que hoje ganha seu esplendor.
Nesta obra para a Escola Panamericana de Artes (que todos conhecem, já que se tornou um ponto de visitação pública, um marco da arquitetura contemporânea em São Paulo), a idéia foi de explorar a transparência do aço para que os espaços ganhassem a cidade - a paisagem dos jardins até a encosta do espigão, o Parque do Ibirapuera (slides). O visitante entra na escola por meio de um túnel - você passa nos espaços de transição até chegar no interior do prédio - o túnel é uma espécie de esqueleto de navio (slides). Esta é uma vista geral do conjunto: duas partes bem distintas do terreno fizeram com que colocássemos o edifício com sua pirâmide na parte desprovida de árvores: na outra, preservamos integralmente as árvores existentes (slides).
A pirâmide é o referencial principal do prédio, já que corresponde aos pontos de encontro do conjunto - foi construída com vidro duplo com vácuo intermediário - assim é possível manter o isolamento acústico em local de uso ruidoso (slides). No centro da pirâmide há um centro de energia - o auditório, na sua base abre-se e fecha-se através do controle eletrônico de painéis móveis que são recolhidos (slides).
O resto do edifício é composto por massas de vidro e aço que se relacionam com a arborização ao redor. Aliás, o aço é um material que se relaciona bem com a natureza: a estrutura de aço é uma grande escultura, como a de uma árvore (slides). Um aspecto importante desta obra é que a escola não parou no ano em que a construção ocorreu, já que os vãos adotados permitiram construir o edifício por cima das casas pré-existentes (slides). Assim, diria que, a ambientação deste edifício é composta pela luz e pelas vistas da paisagem urbana - o resultado é agradável (slides).
Vou mostrar agora alguns projetos que estão sendo desenvolvidos pelo escritório baseados pelo conceito de prumadas verticais em formas deslizantes, com bandejas de diferentes projeções - toda uma riqueza de soluções, criando uma nova dinâmica entre o dentro e o fora (slides).
Este é um edifício - marco em Londrina, no Paraná. É composto por duas massas de concreto contraventadas, compondo com um grande átrio central com pele de vidro. De dia a luz entra; de noite ela se projeta para fora , iluminando a cidade como um farol (slides).
Este edifício foi objeto de um concurso para sede da CICONTEL em Londrina - a torre de comunicações é a própria estrutura do edifício; este desenvolve-se como um "miolo" ao entorno da torre. De dia funciona como um marco na paisagem urbana (slides). Esta é uma vista aérea do edifício com um miolo metálico - enfatiza-se assim a transparência deste último (slides).
Já esta é uma escola para Fundação de Ensino (FNDE) - aqui utilizamos cores primárias em alguns elementos; no resto o material utilizado é o concreto (slides). A escola situa-se em Ribeirão Preto, com seu clima muito quente. Como aqui a luz solar pode até incomodar, desenvolvemos uma arquitetura caracterizada por pátios e jardins, permeando os diversos pavilhões. Na cobertura, telhas de barro. O sistema viário entra dentro da escola concebida como um equipamento urbano completo (slides).
Já na escola da Santa Úrsula utilizamos um sistema construtivo baseado em peças pré-moldadas - baseadas em parabolóides hiperbólidos executados pela HOCHTIEF. A luz aqui entra por aberturas zenitais nos corredores (slides). Os corredores acabam nas capelas - a luz passa por blocos de vidros no piso - o que exigiu uma execução primorosa (slides).
A arquitetura é luz e luz é cor. Tirar partido da luminosidade é o objetivo; As capelas não tem dimensão fixa: às vezes ficam até sem bancos, dando vontade de se sentar no chão. Os vitrais utilizados, como nas catedrais góticas, visam "coar" a luz, criando um efeito luminoso absolutamente mágico. Um ar angelical, criando clima para se elevar espiritualmente. Entendo assim a forma de se trabalhar com o fenômeno luz (slides).
Há outros projetos recentes que gostaria de apresentar: Neste projeto para o Hospital das Nações a proposta foi a de unir a parte de hotelaria com a parte médica através de uma "Ponte dos Suspiros" às avessas - saindo da operação para voltar ao aconchego do quarto, ou da casa (slides).
Um projeto em que a luz tem fator importante é o das estações do mono-rail para o Barra Shopping, no Rio de Janeiro (slide). Aqui o policarbonato da DAY BRASIL foi utilizado de forma integrada à solução estrutural em aço, com outra estrutura em alumínio com policarbonato alveolar para criar o sombreamento necessário. Foi realizado um detalhe primoroso do conjunto, com desenhos que, modéstia à parte, podem ser considerados de primeiro mundo. O sistema utilizado é sutil e limpo - composto por um conjunto de elementos que trabalham em harmonia, com excelente nível de acabamento (slide).
Utilizamos a cor vermelha nas estações, com muita liberdade de composição. À noite, a obra iluminada e luminosa valoriza o Shopping (slide). Esta obra foi muito elogiada, passando a ser lugar de divertimento, muito atraente para um grande shopping center. Tivemos inclusive que fazer todo um detalhamento de elementos que garantissem a segurança dos usuários contra quedas em geral, já que o mono-rail transporta 20 a 30.000 pessoas por fim de semana (slides).
Um outro projeto em que utilizamos aço e grandes superfícies de vidro é este Centro Médico Integrado, em Jurubatuba - aqui as fachadas de vidro foram voltadas para a face sul por causa da insolação.
Outro projeto em início de construção é uma nova unidade da Escola Panamericana na Avenida Angélica (slide). Composto por quatro torres de aço, apresenta uma proposta interessante: os espaços de exposição foram localizados na rua. As suas aberturas foram projetadas com tubos de aço, e os espaços permitem a realização de exposições de rua (slides).
Enfim, tentei comunicar o quanto a luz natural participa da arquitetura, criando grandes desafios para o arquiteto e para a indústria da construção.
Existem vidros hoje que escurecem em função da quantidade de luz, através de processos químicos próprios do material - são tecnologias fantásticas e podemos dizer que os recursos avançados do fim do século só poderão enriquecer o nosso trabalho. Obrigado.
Siegbert Zanettini é arquiteto formado pela FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, da qual recebeu o título de doutor e é professor nos cursos de Graduação e Pós-Graduação. É titular do escritório "Siegbert Zanettini Arquitetura e Planejamento", tendo sido o autor de inúmeras obras de destaque no panorama de arquitetura brasileira contemporânea.
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